“Do vazio da identidade a uma política do sintoma” foi o título dado por Oscar Ventura ao seminário proferido na EBP-Seção SC em julho próximo passado. Essa atividade, preparatória ao XXII Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, deu também lugar destacado à clínica da psicanálise, com o testemunho de passe de Oscar Ventura (com os comentários de Rômulo Ferreira da Silva) e com a oferta de dois casos clínicos para discussão, um de Flávia Cêra e outro de Rômulo Ferreira da Silva.
Muitas questões foram vivamente debatidas nos casos clínicos, das quais se destacam: quando e como operar a partir do equívoco na clínica de um caso de esquizofrenia e quando uma histeria pode “parecer”, à primeira vista, uma psicose estruturada.
Oscar Ventura, em seu Seminário, trabalhou os temas da identificação e da identidade, situando essa problemática, no ensino de Lacan, num deslocamento que vai da concepção do Outro como lugar da linguagem ao Outro como corpo próprio do ser falante.
Se a identificação é um conceito psicanalítico, já a identidade não o é, uma vez que, em psicanálise, a identidade não é “uma”, mas sim constituída por uma variedade de identificações que são múltiplas e passíveis de deslocamentos. Justamente, nos diz Oscar Ventura, se há identificações é porque não há uma identidade que possa se sustentar como “uma”. Desde Lacan, sabemos que o Eu é desconhecimento e, portanto, está habitado pelas identificações que não lhe outorgam uma identidade de ser. A identidade é uma elucubração por não haver identidade.
A identificação pode ser sustentada no traço unário (significantes amos que se capturam do Outro e que permitem gozar) ou no afeto (a partir do acontecimento de corpo, um corpo atravessado por lalíngua). Essa última, a identificação à causalidade psíquica, mais primária, sendo irrupção de gozo pré-sentido, é irredutível.
Atravessar a fantasia é fazer cair as identificações (em sua potência de pathos) e devolver ao sujeito sua vacuidade e a marca de afeto que nele se encarna e faz laço mais além da identificação. Trata-se de um princípio de identidade que se estabelece na relação com o “Um corpo”, com o gozo e com lalíngua. Trata-se de uma identidade sinthomal, quer dizer, esburacada, indelével e que faz pulsar a vida de forma inédita e estritamente singular.
Uma política do sinthoma assim concebido é no que a psicanálise pode apostar frente aos desafios da clínica contemporânea que empuxa às nominações que borram toda singularidade. É necessário que encontremos a lógica que sustenta tanto os sintomas contemporâneos como os fenômenos identitários para que possamos operar topologicamente sobre eles, extraindo assim “as experiências únicas, que dão conta do gozo sinthomático do sujeito, da enunciação, do bem-dizer, que fazem eco no corpo”. O que se escuta na clínica psicanalítica? “Escutar é ter o corpo vazio [...]. Escutar com o fantasma é impossibilitar o ato”, nos diz Oscar Ventura em seu testemunho. |